O pediatra curitibano Luiz Ernesto Pujol será o 19º médico a receber a Medalha de Lucas, honraria concedida pelo Conselho de Medicina do Paraná aos profissionais com destacada trajetória em prol de causas sociais e humanitárias. 
 
Árduo defensor da Medicina humana e do papel social do médico, ele desempenhou, ao longo de meio século de profissão, a principal missão a que se dispôs: a de se dedicar aos seus pacientes.
 
A entrega da Medalha será realizada junto às comemorações do Dia do Médico, em outubro.
 
Confira no texto abaixo, de autoria do CRM-PR, a trajetória do Dr. Pujol, que é o secretário do Departamento de Defesa Profissional da AMP.
 
 
Aos 75 anos de idade, o médico pediatra Luiz Ernesto Pujol (CRM-PR 3.856) espantou-se ao saber da notícia de que seria o homenageado deste ano com a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico. Como se uma vida dedicada de forma inequívoca à saúde dos pacientes não fosse, por si só, merecedora de tal distinção. Mas o caminho percorrido por este curitibano ao longo de meio século de profissão foi além dos mais de 40 mil pacientes. A defesa da ética médica, da valorização da profissão e, principalmente, da Medicina humana e do papel social do médico são ofício ao qual se dedica diariamente, mesmo diante das intempéries da vida.

A honraria, instituída pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) em 1996 para reverenciar profissionais com destacada atuação em prol de causas sociais e humanitárias, é inspirada no evangelista Lucas, Patrono Médico. Desde a sua criação, a homenagem já alcançou 18 médicos paranaenses, sendo que a premiação ocorre em meio aos festejos do Dia do Médico, em outubro, o qual em 2022 possivelmente voltará a ter sua solenidade principal realizada de forma presencial, após ter sido comemorado de forma virtual por dois anos consecutivos devido à pandemia do novo coronavírus.

Formado na primeira turma do curso de Medicina da Faculdade Evangélica de Medicina do Paraná - hoje Faculdade Evangélica de Medicina Mackenzie do Paraná - em dezembro de 1973, o Dr. Pujol foi o primeiro integrante de sua família a concluir o curso de Medicina. Filho único, ele lembra que desde a tenra idade já sonhava em ser médico. E demonstra profunda gratidão pelos pais, Ernesto Pujol Filho e Dorcas Foltran Pujol, por terem-lhe possibilitado concretizar esse sonho. "Eu me formei em Medicina graças a um empenho extraordinário dos meus pais. Meu pai era um funcionário público muito humilde, mas um homem extremamente honesto, culto e que fez sacrifícios sobrenaturais para pagar uma faculdade de Medicina particular", ele ressalta.

Dos seis anos dedicados aos estudos médicos, obteve o prêmio de melhor aluno de sua turma, tendo recebido uma caneta de ouro das mãos do então diretor da escola e fundador, o Dr. Daniel Egg. Logo após formado, especializou-se em Pediatria no Hospital de Crianças César Pernetta (atualmente Hospital Pequeno Príncipe). Nessa época, já era funcionário público, trabalhando como escrevente datilógrafo do vice-governador do Estado, no Palácio do Governo. "Terminei a residência, fiz a prova da Sociedade de Pediatria, passei e recebi uma oferta do secretário da Saúde, que também era pediatra e meu amigo, Dr. Ivan Beira Fontoura,  para acompanhá-lo a uma pequena cidade do interior do Paraná chamada Irati, onde iriam inaugurar um hospital. Era o único hospital da cidade, uma Santa Casa, de uma localidade que não tinha pediatra nem serviço de Pediatria", ele se recorda.

Cidadão honorário

Embora o plano inicial fosse ficar apenas alguns meses para montar e estabelecer o serviço de Pediatria na instituição de saúde, a "estadia" durou profícuos oitos anos. "Eu me apaixonei pela cidade, montei o serviço e estava muito bem, profissionalmente e economicamente", resume. "Eu me envolvi tanto com a Medicina, eu trabalhava tanto, que na verdade eu me esquecia da minha família. Ficava dois, três dias sem ir para casa, mas era o único pediatra que atendia toda aquela região", reflete sem, no entanto, demonstrar arrependimento. 


Isso porque as necessidades de saúde daquela comunidade eram muitas. Em meados da década de 1970, a epidemia de meningite meningocócica assolava muitas cidades do Brasil. No Carnaval de 1976, com 38 leitos pediátricos disponíveis na Santa Casa, ele se lembra de ter 78 crianças internadas, em um mesmo dia. Todos se recuperaram sem sequelas, à exceção de um, que acabou perdendo a audição. "Eu me pergunto às vezes o porquê que isso aconteceu; não era a minha capacidade, porque o tratamento medicamentoso era o mesmo em todo o mundo. Acho que o que determinou esse sucesso nosso, meu e da equipe de enfermagem, foi a maneira como tratamos aqueles doentes", acredita, após ter passado seis dias consecutivos sem sair do hospital, de forma a não deixar seus pacientes sem um pediatra de plantão.

Quarenta anos após sua experiência em Irati, o Dr. Pujol foi agraciado com o recebimento do título de Cidadão Honorário da cidade, comenda oferecida pela Câmara de Vereadores do município. "Esta homenagem é justa e se faz necessária para que possamos mostrar como somos gratos ao Dr. Pujol pelos relevantes serviços prestados a este município e à nossa população, a quem realmente se doou, transformando a realidade da saúde para tantas crianças e adolescentes e suas famílias. Foi o socorro e o amparo de tantas mães e pais, dedicando uma vida inteira ao ofício de cuidar, tratar e curar, realizando sua missão com humanismo, dedicação e amor", destacou o presidente da Casa, vereador Helio de Melo.

Recomeço em Curitiba

Embora estivesse muito bem profissionalmente em Irati, o Dr. Pujol precisou tomar uma difícil decisão: a de voltar para Curitiba em prol de sua família. Um diálogo casual com o primogênito, Gustavo, que tinha cinco anos à época, o fez mudar de planos e recomeçar a carreira na capital paranaense. Sua esposa, Beatriz, já o havia brindado com uma segunda filha, Thaís. 

De volta a Curitiba, recebeu o convite de seu ex-professor de Pneumologia, Dr. Odair de Floro Martins, que estava assumindo a diretoria do Sanatório do Portão (atual Hospital do Trabalhador), para montar um serviço de tuberculose infantil. Para tanto, realizou um estágio de três meses no Hospital de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Além do serviço de tuberculose, o Dr. Pujol foi responsável por montar o serviço de trauma pediátrico do Hospital do Trabalhador, tendo sido, ainda, diretor da instituição.


Também atuou, em conjunto com a pediatra Luci Pfeiffer, homenageada com a Medalha de Lucas em 2021, na idealização e implementação do projeto Dedica (Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente), que atua na defesa da infância saudável e proteção a crianças e adolescentes em situação de risco. O projeto nasceu no início dos anos 2000 e atualmente funciona com o apoio da Associação dos Amigos do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). "Era tudo voluntário, mas a gente nunca entendeu como voluntariado, mas como uma missão", ele se recorda.

Além disso, atendia em seu consultório particular e também participava ativamente em diretorias da Sociedade Paranaense de Pediatria (SPP), onde foi tesoureiro, ouvidor e secretário-geral e da Associação Médica do Paraná (AMP), onde foi secretário-geral, segundo tesoureiro e atualmente compõe o Departamento de Defesa Profissional.

No CRM-PR, iniciou em 2003 como conselheiro suplente. Em 2013, foi eleito conselheiro efetivo, tendo assumido o cargo de vice-presidente de outubro de 2013 a maio de 2015 e a presidência da Casa de junho de 2015 a janeiro de 2017, tornando-se o 21º presidente do Conselho do Paraná. Na ocasião de sua posse, destacou a honra e a responsabilidade da nova função: "Tenho ciência de que serão muitos os obstáculos a serem superados para que possamos resgatar a dignidade da Medicina e recuperarmos a merecida qualidade dos serviços de saúde deste País. É chegado o momento no qual cada um dos médicos deve assumir o seu papel e a sua efetiva participação em prol de seus direitos e deveres perante a sociedade."

Ao longo de sua gestão na direção do CRM-PR, manteve-se fiel aos princípios que sempre o nortearam, destacando o papel do médico em relação aos seus pacientes. "Aos médicos cabe, a cada doente que atendem, acolhê-los com respeito e consideração, oferecer-lhes o que há de melhor tecnicamente com a humildade de ouvi-los e se envolverem na procura da melhor solução para suas queixas, mesmo aquelas que lhe pareçam sem muito valor, mas que ao doente muito angustia", frisou em entrevista à Revista Ampla logo após assumir o novo cargo.

Dedicação aos pacientes

"Tudo o que fiz e conquistei foi com muita dedicação, mas principalmente pelos meus doentes, até hoje", pondera o pediatra. Entre os mais de 40 mil pacientes, um deles é também conselheiro do CRM-PR na atual gestão, o oftalmologista Fernando Cesar Abib, que é natural de Irati.

Tendo atendido diferentes gerações, o Dr. Pujol conquistou o respeito e admiração dos colegas por sempre ter atendido seus pacientes, a despeito da remuneração. "Nunca perguntei para doente nenhum se poderia pagar a consulta. Se pudesse, ele pagava para minha secretária", ele conta. "Não fiz da Medicina um comércio, o que me orgulho. Não acho que fiz um sacerdócio, mas uma missão: era o que eu queria fazer, eu queria ser esse médico."

Fazendo um retrospecto de sua trajetória, o pediatra demonstra satisfação pelo caminho percorrido, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. "Eu tenho muita sorte na vida", ele reflete, enumerando a sua fortuna por ter tido pais dedicados, uma esposa companheira, excelentes filhos e um trabalho bem-sucedido em seu consultório e como médico do Estado.

Há pouco mais de três anos, após cuidar de tantos pacientes, ele recebeu o diagnóstico de um câncer em fase bastante avançada, em metástase. "Fizeram todos os exames e me disseram que eu teria seis meses de vida. Mas havia um medicamento que poderia me manter vivo, apesar de não curar", ele explica. Toda essa situação, no entanto, não o impediu de continuar atuando ativamente no Conselho e demais atividades de seu cotidiano, mesmo diante da eclosão da pandemia e todas as incertezas trazidas com ela. "Isso não me faz parar de querer continuar a estudar, de ler, de tentar ajudar os outros", ele frisa, acrescentando: "Nasci para ser esse médico, que se dedica ao doente, e faria tudo novamente."

Sobre a Comissão Julgadora

Instituída pela Portaria n.º 11/2022, da Presidência, a Comissão de Seleção de Médicos Candidatos à Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico 2022 foi formada pelos conselheiros Edison Luiz Almeida Tizzot (coordenador), Kátia Sheylla Malta Purim e Úrsula Bueno do Prado Guirro, todos professores de cursos médicos.

No total, 20 profissionais de reconhecido trabalho médico-social foram indicados para concorrer à atual edição da honraria, sendo dois casos de indicações conjuntas. Após minucioso exame do histórico de cada um, os integrantes da comissão definiram a indicação do nome do Dr. Pujol, decisão referendada em sessão plenária do CRM-PR.

Desde que foi instituído, o prêmio já foi concedido a outros cinco pediatras: a Dra. Luci Pfeiffer (2021), a Dra. Mariângela Batista Galvão Simão (2020), o Dr. Ivan Beira Fontoura (2007) e a Dra. Zilda Arns Neumann (2000), além do padre e médico José Raul Matte (1997), que dedicou toda a sua vida religiosa e profissional em prol dos ribeirinhos e indígenas da Amazônia. O primeiro médico a receber a comenda foi o Dr. Hélio Brandão, fundador do chamado "Clube da Soda", em 1996.

NEXT

Consentimento de Cookies.

Existem algumas opções que podem não funcionar sem a utilização dos cookies. Para mais informações sobre os cookies que utilizamos, visite a nossa Política de privacidade.